O Projeto

Nossa Comunidade tem História  
 


Justificativa para o projeto
       A realização de um projeto que contemple a valorização da cultura popular e que resgate a história de vida de cidadãos comuns que integram as periferias de nossas cidades, está intimamente ligada à proposta do programa “Mais Cultura” do governo federal, “um programa pautado na integração e inclusão de todos segmentos sociais, na valorização da diversidade e do diálogo com os múltiplos contextos da sociedade brasileira”.[1]
          Nesse sentido, resgatar a história de comunidades periféricas muito mais do que um simples exercício de pesquisa cientifica, torna-se um verdadeiro trabalho de valorização da cidadania e da diversidade, na medida em que coloca em foco a cultura popular, que muitas vezes fica a margem das grandes produções culturais que costumam movimentar grandes somas de dinheiro e atrair as principais atenções da mídia.
           Trabalhar com cultura popular significa resgatar a identidade de uma região, valorizar aspectos específicos de cada grupo populacional, em um momento em que a “cultura” é cada vez mais homogênea devido ao processo de globalização. Registrar, documentar e trabalhar nossa história e nossa cultura nas suas expressões mais autênticas, é um importante trabalho de conservação de  nossa identidade, de nosso “Patrimônio Cultural”.
A importância da análise e do conhecimento do Patrimônio Cultural para o exercício da cidadania é a ampliação do sentido de comunidade, a percepção do valor e do significado das experiências e vivências compartilhadas, a consciência da participação de cada individuo no processo cultural e político de sua coletividade, o domínio dos códigos sociais vigentes, o dialogo com base em uma linguagem comum, compreendida por todos, a responsabilidade por uma herança cultural que é privilégio de todos.
Capacitar o cidadão para a leitura critica e do conhecimento do seu Patrimônio Cultural é fazê-lo reconhecer, nos vestígios do passado e nas evidencias do presente, as linhas e impressões de suas próprias mãos, herdadas de seus ancestrais. É fazê-lo  identificar as “pedras de fogo” que marcaram seu destino e sua cultura própria, e repetir, no presente, o gesto cultural que lhe garante o exercício de sua “humanidade”.<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]-->

          É a partir disso que buscamos justificar o presente projeto, intitulado “Nossa Comunidade tem História”. Um projeto que visa restituir a auto-estima da população dos bairros da periferia da cidade de Guaíba<!--[if !supportFootnotes]-->[3]<!--[endif]--> através do resgate da memória de pessoas que integram essas comunidades.

Para tanto, propomos, com base em um novo referencial teórico, repensar os conceitos de Cultura (Marilena Chauí), Memória e Cidadania (T.H, Marshall, Hanna Arendt e Claude Lèfort), para podermos inferir que todo cidadão tem direito à cultura, na sua acepção mais ampla e, por conseguinte, à memória coletiva e ao passado histórico. A memória social ou coletiva, evidenciada através dos registros, vestígios e fragmentos do passado - os chamados bens culturais de uma data coletividade - constitui-se em referencial de nossa identidade cultural e instrumento possibilitador do exercício da plena cidadania.<!--[if !supportFootnotes]-->[4]<!--[endif]-->

           Podemos definir as ações deste projeto em dois focos: o primeiro, direcionado a um público mais velho<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]-->, com as chamadas Rodas de História. Um verdadeiro exercício etnográfico onde, através da mediação de um profissional apto a trabalhar com essa temática, as pessoas terão a oportunidade de contar sua história e conhecer a dos seus pares. O intuito dessa atividade é desenvolver no grupo um espírito de coletividade e proporcionar a valorização da auto-estima destas pessoas, na medida em que passem a se perceber como agentes de sua própria história e da localidade onde vivem. O segundo foco de ação são as oficinas de capacitação em fotografia e audiovisual, estas oficinas são direcionadas a um publico mais jovem<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]--> e visa oferecer-lhes uma nova opção profissional em uma área em expansão e que oferece muitas oportunidades.
          São oficinas que num primeiro momento parecem muito distintas, contudo, na pratica não funcionará desta forma. Todo o registro das oficinas será realizado pelos alunos da oficina de fotografia e audiovisual, e deste registro serão produzidos uma exposição e um documentário. Será um trabalho árduo, mas que tornará visíveis comunidades que muitas vezes, pela sua condição periférica, parecem invisíveis. Além disso, esta ação proporcionará o encontro de gerações em um trabalho que exige o respeito e o conhecimento mútuo, recriando uma tradição que em nossa sociedade parece um pouco esquecida, que é o respeito e a admiração pela sabedoria trazida pela experiência dos mais velhos.
          Será um trabalho feito pela comunidade, para a comunidade, mas que busca atingir toda a população de Guaíba e arredores. Às pessoas que integram essas comunidades pelo orgulho de um trabalho bem feito e por terem sua história finalmente reconhecida e valorizada, e às pessoas que integram os bairros centrais que terão sua atenção voltada a estas comunidades periféricas e poderão romper com os estereótipos negativos  que muitas vezes são associados a estes locais.
         Os motivos que levaram à realização do projeto foram essencialmente a situação sócio-econômica dos bairros e arredores e a exposição à situações de risco social devido ao tráfico de drogas e, conseqüentemente à violência. A interação em grupos orientados, de reflexão e expressão sobre a história vivenciada, que tragam expressão de arte e cultura, permitirá  que os adolescentes, jovens e adultos atendidos passem a ser reconhecidos como sujeitos de direitos e protagonistas de suas histórias.
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<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> http://mais.cultura.gov.br/2009/02/09/410/ Acesso em 04/08/2010
<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]--> HORTA, Maria de Lourdes Parreiras. Fundamentos da educação patrimonial In: Ciências & Letras Revista da faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras, Porto Alegre, n.27, jan/jun, 2000, p 20
<!--[if !supportFootnotes]-->[3]<!--[endif]--> Os bairros onde está prevista a criação das oficinas “Roda de História”, são: Santa Rita, Bom Fim, São Jorge e Ermo.
<!--[if !supportFootnotes]-->[4]<!--[endif]--> FERNANDES, José Ricardo Oria. O Direito à História: A Proteção Jurídica ao Patrimônio Histórico-Cultural no Ordenamento Constitucional Brasileiro. Tese de mestrado defendida na UFC
<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]--> Compreendemos aqui a faixa etária entre 15 e 25 anos, contudo, apesar da preferência por esta faixa etária, não haverá impedimento caso alguém mais velho queira participar.