Foi inaugurada dia 5 de dezembro, na sede do Centro de Referência São José, o PROJARI, a exposição "Descobrindo nossos bairros: Retratos de uma lembrança". Trata-se de 16 retratos dos bairros Ermo, São Jorge / Primavera, Santa Rita / Cohab e Bom Fim. As fotos são de autoria dos alunos da Oficina de Foto e Vídeo do Projeto Nossa Comunidade tem História.
Para o próximo ano, o projeto ainda prevê a elaboração de um livro, um documentário e uma nova exposição sobre os bairros trabalhados.
Abaixo, alguns registros da cerimônia de inauguração.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Bairros retratados
É um ensaio elaborado, uma primeira amostra, um resultado parcial do trabalho desenvolvido até agora pelo Nossa Comunidade. Uma parcela bem talhada, um quinhão precioso. É a inauguração de "Descobrindo nossos bairros: Retratos de uma lembrança", exposição nascida do diálogo entre as histórias coletadas nas Rodas e o aprendizado da Oficina de Foto e Vídeo.
Depoimentos dos oficineiros. Retratos feitos pelos alunos. A memória de Santa Rita/COHAB, Ermo, Bom Fim, São Jorge/Primavera começa a ser desvendada.
O quê: Exposição "Descobrindo nossos bairros: Retratos de uma lembrança".
Quando: Segunda-feira, 5 de dezembro, às 19h.
Onde: Sede do PROJARI, Av. João Salazar, nº 250 - Bairro Bom Fim / Guaíba
Memórias campeiras
Mario Arregui é desses escritores uruguaios que conseguem mapear os dramas humanos universais no rigor moral, nos modos embrutecidos e na memória de viventes campeiros. Um irmão mais novo de Juan José Morosoli, e como todo caçula rebelde, de penas mais enfeitadas também. Noite de São João, o primeiro conto do volume traduzido por Sérgio Faraco e publicado pela editora L&PM sob o título Cavalos do Amanhecer, é uma amostra exemplar dessa prática.
Nele Francisco Reyes regressa ao povoado depois de muito tempo nas tropeadas, depois de muito tempo na lida abundante em interjeições e árida em diálogos que a companhia do gado promove. Regressa justo na noite de São João, noite de luzes mais vivas, de fogueiras lambendo o céu. Junto de sua volta, nalgum canto daquela imensidão de lampiões iluminando a vila, há uma dívida afetiva com familiares, há o desejo de reencontrar as mulheres da vida, sobretudo a amiga Carmen.
Reyes escolhe como prioridade a segunda opção. E nos leva pelas ruelas arenosas da localidade que aos poucos volta a reconhecer como sua. No caminho, contudo, uma parada para apreciar a respeitável altura de uma fogueira – chama tão acesa e densa quanto as perturbações afetivas causadas pelo regresso. Ele freqüenta as chinas. Ele se despede delas. A noite avança. A perturbação permanece, sobrevive às artimanhas dos lençois.
Reyes recorre, então, ao álcool, companheiro fiel do homem solitário – urbano ou rural. E aquela euforia que normalmente desarma qualquer ameaça de reflexão existencial, aquela debilidade muscular e mental que reduz a preocupação mais alarmante a um problema banal, aquela euforia não é mais concedida pelo trago.
Restaria o fumo, talvez o exorcismo da realidade na bebedeira sem concessões, por fim a contemplação da mesma fogueira cada vez mais reduzida pela diminuição da temperatura, pela displicência dos garotos em repor a lenha – como quem assiste o ponteiro avançar no relógio por horas na esperança de que um remorso recente cicatrize logo e se transforme numa vaga lembrança ruim.
O destino, porém, tem planos mais interessantes para Reyes. Nas imediações de outro bordel, ele se depara com um rosto belo, jovem e desconhecido. A esperança de aplacar a amargura persistente renasce naquele corpo de mulher. Eles encaminham-se para um quarto modesto. As apresentações verbalizadas dividem terreno com a emergente intimidade tátil, num ensaio de cumplicidade afastado da irracionalidade do sexo. E já madrugada adentro, já depois dos primeiros galos cantarem, já depois do sexo e do trago abandonarem as certezas de Reyes, nosso herói se reconcilia parcialmente com a vida no afeto financiado nos braços de uma prostituta novata.
O resto é despedida encharcada de uma gratidão contida à jovem, uma promessa mentirosa de reencontro, a melancolia insondável que os desenlaces de relações sustentadas pelo dinheiro sugerem. Mas é, sobretudo, a garantia de que o dia nascera, os galos cantaram em coro robusto, a fogueiro jazera na fragilidade das cinzas, Reyes vencera a noite de São João e suas armadilhas sentimentais. Era hora de despir o poncho humano. Era hora de voltar a ser tropeiro.
Uma vez por mês, a Memória encontra eco na Arte aqui no Blog. Uma vez por mês, o projeto Nossa Comunidade tem História dialoga com alguma manifestação artística que tenha na Memória um de seus temas centrais.
Nele Francisco Reyes regressa ao povoado depois de muito tempo nas tropeadas, depois de muito tempo na lida abundante em interjeições e árida em diálogos que a companhia do gado promove. Regressa justo na noite de São João, noite de luzes mais vivas, de fogueiras lambendo o céu. Junto de sua volta, nalgum canto daquela imensidão de lampiões iluminando a vila, há uma dívida afetiva com familiares, há o desejo de reencontrar as mulheres da vida, sobretudo a amiga Carmen.
Reyes escolhe como prioridade a segunda opção. E nos leva pelas ruelas arenosas da localidade que aos poucos volta a reconhecer como sua. No caminho, contudo, uma parada para apreciar a respeitável altura de uma fogueira – chama tão acesa e densa quanto as perturbações afetivas causadas pelo regresso. Ele freqüenta as chinas. Ele se despede delas. A noite avança. A perturbação permanece, sobrevive às artimanhas dos lençois.
Reyes recorre, então, ao álcool, companheiro fiel do homem solitário – urbano ou rural. E aquela euforia que normalmente desarma qualquer ameaça de reflexão existencial, aquela debilidade muscular e mental que reduz a preocupação mais alarmante a um problema banal, aquela euforia não é mais concedida pelo trago.
Restaria o fumo, talvez o exorcismo da realidade na bebedeira sem concessões, por fim a contemplação da mesma fogueira cada vez mais reduzida pela diminuição da temperatura, pela displicência dos garotos em repor a lenha – como quem assiste o ponteiro avançar no relógio por horas na esperança de que um remorso recente cicatrize logo e se transforme numa vaga lembrança ruim.
O destino, porém, tem planos mais interessantes para Reyes. Nas imediações de outro bordel, ele se depara com um rosto belo, jovem e desconhecido. A esperança de aplacar a amargura persistente renasce naquele corpo de mulher. Eles encaminham-se para um quarto modesto. As apresentações verbalizadas dividem terreno com a emergente intimidade tátil, num ensaio de cumplicidade afastado da irracionalidade do sexo. E já madrugada adentro, já depois dos primeiros galos cantarem, já depois do sexo e do trago abandonarem as certezas de Reyes, nosso herói se reconcilia parcialmente com a vida no afeto financiado nos braços de uma prostituta novata.
O resto é despedida encharcada de uma gratidão contida à jovem, uma promessa mentirosa de reencontro, a melancolia insondável que os desenlaces de relações sustentadas pelo dinheiro sugerem. Mas é, sobretudo, a garantia de que o dia nascera, os galos cantaram em coro robusto, a fogueiro jazera na fragilidade das cinzas, Reyes vencera a noite de São João e suas armadilhas sentimentais. Era hora de despir o poncho humano. Era hora de voltar a ser tropeiro.
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